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Da Separação À Fortuna: Como Dono da TransPerfect Ficou Bilionário

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“Existe uma velha história sobre os Rolling Stones vivendo como exilados fiscais na França”, diz o bilionário Phil Shawe, de 55 anos, em uma chamada de vídeo direto de um escritório de paredes brancas em Porto Rico, com o sol tropical entrando pelas venezianas. “Eu sou um exilado fiscal em Porto Rico.”

Shawe chama carinhosamente Porto Rico de “o único paraíso fiscal legítimo” dos EUA. Ele se mudou para a ilha em 2018 — o mesmo ano em que assumiu o controle total da empresa de serviços de tradução e idiomas TransPerfect — como forma de reduzir os impactos dos impostos gerados pelo acordo. Hoje, sua residência principal é uma mansão imponente no Viejo San Juan, que já foi sede do consulado francês.

A mudança também marcou simbolicamente o fim de uma disputa intensa entre Shawe e sua ex-noiva, cofundadora e parceira de negócios por mais de 25 anos, Liz Elting. Os dois fundaram a TransPerfect em 1992, dentro de um dormitório da Universidade de Nova York, e continuaram a comandar a empresa com sucesso por quase duas décadas, mesmo depois de ela ter se casado com outra pessoa. Por volta de 2011, no entanto, a relação começou a deteriorar, dando início a batalhas judiciais em dois estados e a diversas acusações sérias, como agressão com salto alto, roubo e invasão.

Em diferentes momentos, tanto Shawe quanto Elting quiseram comprar a parte do outro, mas nunca chegaram a um acordo. Um juiz de Delaware chegou a chamar o relacionamento dos ex-parceiros de “disfuncional” — pouco antes de ordenar a venda da empresa em leilão público, em 2016. Elting preferiu não comentar; já Shawe fez questão de destacar o sucesso financeiro da empresa naquele ano: “de forma alguma era disfuncional, o sistema que forçou a TransPerfect a gastar US$ 250 milhões (R$ 1,377 bilhão) em honorários legais para passar por um processo de venda forçada sem precedentes que é disfuncional.”

Mais de uma dúzia de interessados disputaram a compra da TransPerfect em quatro rodadas. A decisão final ficou entre três finalistas: Shawe, o grupo Blackstone (em parceria com Elting) e a firma de private equity H.I.G. (proprietária da concorrente Lionbridge). Shawe saiu vencedor ao oferecer US$ 385 milhões (R$ 2,122 bilhões) pelos 50% que ainda não possuía, o que avaliou a TransPerfect em US$ 770 milhões (R$ 4,244 bilhões).

Embora tenha ficado aliviado ao conseguir o controle total da empresa, Shawe não ficou satisfeito por ter tido que comprá-la em um leilão, algo que ele considera “uma burrice tributária” e “um peso fiscal injusto”. Foi nesse momento que ele se mudou às pressas para Porto Rico.

O território americano oferece vantagens fiscais para certas pessoas — aquelas que se mudaram para a ilha na última década, doam US$ 10 mil (R$ 54.700,00) por ano a uma organização sem fins lucrativos local e estabelecem residência oficial no local, requisitos que Shawe cumpria. Essas pessoas podem evitar o pagamento de impostos (inclusive federais) sobre ganhos de capital, dividendos ou rendimentos. Como escreveram quatro congressistas em uma carta de 2023, são “benefícios fiscais que americanos não poderiam obter em nenhum outro lugar do mundo”.

Novos tempos

Desde que assumiu o controle total da empresa, Shawe quase dobrou a receita da TransPerfect, que chegou a US$ 1,2 bilhão (R$ 6,612 bilhões) em 2024 — impulsionada, em parte, por aquisições. Só no último ano, ele comprou nove empresas por US$ 40 milhões (R$ 220,4 milhões). Além disso, teve sucesso ao investir na área de inteligência artificial. A TransPerfect vem utilizando a tecnologia em conjunto com profissionais humanos para traduzir informações sensíveis e adaptar conteúdos, como sites, para diferentes idiomas e culturas — um serviço conhecido como localização. A empresa traduz mais de 7 milhões de palavras por dia para centenas de clientes, incluindo Microsoft, P&G, United e Pfizer.

Segundo Katherine Zinger, gerente sênior de programas na Microsoft, o GlobalLink da TransPerfect — um programa que automatiza o processo de tradução de conteúdos, como sites, para diferentes idiomas em empresas multinacionais — ajudou a reduzir os custos desse tipo de trabalho em cerca de 30%.

As margens de lucro no setor são apertadas, girando em torno de 7%, segundo a analista Katie Cousins, da Shore Capital. A TransPerfect não revelou dados específicos sobre sua lucratividade e por ser uma empresa privada, não é obrigada a isso. No entanto, um de seus assessores financeiros disse à Forbes que suas margens estão acima da média do setor. Shawe tem planos maiores e, no ano passado, promoveu Jin Lee — funcionário de longa data e possível sucessor — ao cargo de co-CEO para ajudá-lo a levar a empresa a um novo patamar.

A Forbes estima que a TransPerfect — da qual Shawe detém 99% e sua mãe, 1% — vale por volta de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,84 bilhões), o que representa 2,3 vezes seu valor na época do leilão. Para Shawe, no entanto, a empresa vale ainda mais: “eu seria bilionário duas vezes se vendesse a empresa, mas não tenho nenhuma intenção de fazer isso. Depois de 32 anos, continuo trabalhando bastante.”

Frustação virou questão de honra

Os primeiros dias da empresa foram eletrizantes. Shawe e Elting eram estudantes de administração na NYU quando começaram o serviço de tradução, a partir do quarto de dormitório de Shawe, financiando o projeto com economias e dívidas no cartão de crédito, e trabalhando cem horas por semana. O então casal criou uma rede de freelancers para traduzir documentos de forma mais rápida e eficiente do que os concorrentes e, assim, a empresa cresceu rapidamente. Eles só aceitaram investimento externo uma vez , mas logo depois compraram a participação de volta.

“A gente gostava da liberdade, de poder focar na visão de longo prazo e de não ter outros tomadores de decisão,” contou Elting anteriormente à Forbes. Mesmo com o relacionamento entre os dois se deteriorando, a empresa continuou crescendo e atingiu uma receita de pouco mais de US$ 700 milhões (R$ 3,82 bilhões) em 2018.

Naquele mesmo ano, Shawe transferiu a sede da TransPerfect para Nevada, motivado pela frustração crescente com o Tribunal de Chancelaria de Delaware, onde afirma ter enfrentado centenas de milhões de dólares em honorários advocatícios relacionados ao processo judicial que, segundo ele, “colocou a empresa em risco”. Trata-se, em partes iguais, de um ativismo e de uma campanha de revanche: Shawe processou o advogado Robert Pincus, o custodiante responsável pela venda da TransPerfect, ao menos três vezes — principalmente por questões ligadas às taxas legais da venda — e recorreu das decisões mais de uma dúzia de vezes entre 2017 e 2024. No entanto, maioria foi indeferida, inclusive em sentenças da semana passada. Procurado pela Forbes Pincus preferiu não comentar.

Setor imperfeito em crescimento

Historicamente, empresas de tradução eram “negócios familiares menores” e era difícil “atingir uma escala que as tornassem atrativas para o mercado financeiro”, segundo um dos assessores financeiros da TransPerfect. Mas, recentemente, algumas companhias vêm conquistando uma fatia maior do mercado, entre elas a RWS, a LanguageLine (com sede na Califórnia) e a própria TransPerfect — hoje, as três líderes do setor.

A TransPerfect conta agora com 10 mil funcionários distribuídos por 50 países — o dobro dos 5 mil que tinha em 2018 — que traduzem desde documentos jurídicos e patentes até materiais de marketing e sinalização. Kris Marrero, vice-presidente sênior de produção e funcionário de longa data, afirma que muitos colaboradores são extremamente leais a Shawe, creditando a ele a criação de uma cultura única dentro da empresa, que inclui reuniões estratégicas anuais no estilo “Vingadores”, juntando os principais executivos em locais tão diversos quanto templos budistas no Butão e cachoeiras na Islândia.

“Phil sempre diz para nós: ‘nunca faça alguém fazer um trabalho que você mesmo não faria’”, conta Kris Marrero. “Quando eu ainda era um gerente iniciante, estava com uma pilha de projetos atrasados, e o Phil foi até o meu escritório para me ajudar a resolver tudo, um por um.” Joe Campbell, vice-presidente sênior de operações tecnológicas, lembra de Shawe ligando para linguistas às duas da manhã para pedir ajuda em um projeto grande de tradução. Campbell, que está na empresa há 14 anos, diz que dividiu um escritório com Shawe por quase uma década. Segundo ele, o executivo não gosta de ter uma sala própria, em parte porque prefere orientar as pessoas e tê-las por perto, trabalhando junto.

Mas nem todo mundo faz tantos elogios. No Glassdoor, há centenas de avaliações reclamando de baixos salários e jornadas longas. “Nossa estrutura de remuneração está em conformidade ou supera os padrões de cada mercado,” escreveu Shawe em um e-mail à Forbes. “Os funcionários da TransPerfect ao redor do mundo são devidamente e justamente remunerados.” Ainda assim, ex-funcionários entraram com uma ação coletiva em 2019, alegando que a empresa não pagava horas extras. O processo incluía “centenas” de funcionários que recebiam menos de US$ 1.125,00 (R$ 6.153,00) por semana nos escritórios da empresa em Nova York — valor inferior ao mínimo necessário para que eles estivessem isentos do pagamento de horas extras.

Shawe, que costuma recorrer aos tribunais, processou o advogado que representa o grupo, Jeremiah Frei-Pearson, por difamação, em maio de 2024. Frei-Pearson disse ao site Law360 que a TransPerfect cometeu “roubo de salário intencional” e acrescentou que “em vez de resolver esse caso simples de horas e pagamentos, a empresa usou todos os truques possíveis para adiar o pagamento dos trabalhadores que prejudicou.” Shawe entrou com mais um processo em fevereiro, desta vez por infração de marca registrada, acusando o escritório de Frei-Pearson de usar uma versão mal modificada do logotipo da TransPerfect em materiais voltados à captação de mais membros para a ação. Frei-Pearson não respondeu ao pedido de comentário. Os dois processos ainda estão em andamento.

Shawe alega que a ação coletiva gira em torno de honorários advocatícios e diz que não vai fazer um acordo, mesmo que os danos sejam mínimos, porque acredita que a TransPerfect “não fez nada de errado” e que isso apenas abriria espaço para “mais ações frívolas”.

A empresa também enfrenta outra ação coletiva, com origem em um processo aberto em 2022 por uma ex-prestadora de serviços na Califórnia. Ela acusa a TransPerfect de classificá-la indevidamente — assim como “mais de 100 membros potenciais do grupo” — como trabalhadora autônoma, além de não garantir “pagamentos pontuais”, horas extras e intervalos para descanso.

“A boa notícia é que tenho muitos advogados”, diz Shawe — acrescentando que eles poderiam ajudar a Forbes a ter acesso às transcrições judiciais com mais agilidade e por um custo menor.

Os pontos fortes

Segundo Shawe, as áreas de negócio que mais crescem atualmente na empresa incluem o serviço de intérpretes por telefone TransPerfect Connect, a divisão de coleta e rotulagem de dados DataForce e a subsidiária de descoberta eletrônica da TransPerfect Legal Solutions. As duas últimas — que estão indo muito bem, faturando respectivamente US$ 49 milhões (R$ 267,9 milhões) e US$ 125 milhões (R$ 683,7 milhões) em 2024 — reforçam o foco de Shawe em inovação interna.

A DataForce, por exemplo, emprega prestadores de serviços de várias partes do mundo para ajudar empresas, desde fabricantes de veículos autônomos até companhias farmacêuticas, a coletar e classificar os dados necessários para treinar modelos de inteligência artificial (IA) especializados. Essa unidade evoluiu com base em ideias apresentadas durante o hackathon anual da TransPerfect. Já o braço jurídico surgiu depois que Shawe descobriu que alguns clientes estavam insatisfeitos com os fornecedores de serviços que usavam. Então, a empresa criou sua própria solução.

Nas palavras de Shawe: “Canibalize a si mesmo. Se você pode oferecer uma solução melhor por meio da tecnologia, mesmo que isso signifique reduzir sua receita com serviços, ofereça. Porque, se você não fizer isso, alguém vai.”

Uso de IA

Mais do que em quase qualquer outro setor, a inteligência artificial (IA) — especialmente o avanço da tradução automática — tem impactado diretamente os serviços linguísticos, que começaram a adotar essa tecnologia há cerca de uma década. Ainda assim, há uma diferença entre uma empresa como a TransPerfect e soluções como o Google Tradutor, explica Shawe.

Com o Google, “você basicamente abre mão dos direitos sobre o conteúdo do documento, e a empresa pode publicar esse conteúdo ou usá-lo para indexação.” Já os clientes da TransPerfect incluem organizações que precisam de alta confidencialidade e precisão, como os Departamentos de Justiça, Energia e Segurança Interna dos Estados Unidos, além da gigante farmacêutica Gilead Sciences. Dependendo do cliente, os funcionários ainda revisam praticamente todo o trabalho entregue.

Shawe vem aproveitando o boom da IA para adquirir pequenas empresas em novas áreas. Entre as aquisições recentes estão a plataforma de interpretação simultânea TheSpeech e o grupo europeu The Apostroph Group, com sedes na Suíça e na Alemanha. Shawe, que afirma reinvestir a maior parte dos lucros da empresa em vez de se pagar dividendos, diz que ainda tem cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,09 bilhão) reservados para novas aquisições. Segundo Zinger, a TransPerfect também tem trabalhado com a Microsoft para testar alguns produtos de IA e tem buscado, internamente, outras oportunidades de negócio.

“A tradução enfrenta ventos contrários — principalmente porque cada vez mais projetos podem ser realizados por soluções automatizadas,” escreveu o executivo.

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